A derrota começou antes dos 90 minutos. A torcida brasileira,
que estava dando um show na Copa do Mundo, decepcionou com as vaias ao hino da
nação do Chile.
Hino não se vaia, se respeita.
É questão de educação. Vaiar o hino é demonstrar falta de
respeito à nação que sofreu por muitos anos com a repressão, a ditadura, sofreu
com um terremoto que devastou o país e tem no futebol uma maneira de união
nacional representada por sua melhor geração de todos os tempos nesta edição de
Copa do Mundo.
Fiquei envergonhado. Não precisava vaiar o hino chileno.
Deselegância absoluta, aliás, cadê o fair-play? #issonãosefaz
Torcida brasileira vaiou gratuitamente o hino chileno Créditos: Danilo Borges / Portal da Copa |
A vaia ao hino chileno, claramente, motivou a equipe comandada
por Jorge Sampaoli, que por sua vez, lutou com alma e coração durante os 90
minutos e nos 30 da prorrogação diante do time verde e amarelo, além de nos dar
uma aula de tática.
O time bem armado taticamente, com garra e muita dedicação
consegue se impor contra o oponente com qualidade técnica superior, no caso, o Brasil.
Chilenos não deram bola às vaias da torcida brasileira e cantaram com determinação o hino Créditos: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil |
O Chile respondeu às vaias com respeito, com raça, dedicação
e garra em cada bola dividida. A equipe de Vidal, Aránguiz, Sanchez, Vargas e
etc., ganhou o jogo, mas perdeu a vaga.
A equipe brasileira saiu de campo com sentimento de que
ficou devendo. Sabe das lições que deve levar para o restante do mundial, se
quiser lutar pelo título.
Contudo, o futebol mais uma vez mostrou o quanto é emocionante
e gostoso de acompanhar. Até aqueles chatos de plantão que criticaram a
realização da Copa no Brasil, aqueles “malas” que adoram criticar o esporte da
massa, acabam se contagiando com a emoção de uma partida como Brasil e Chile
fizeram.
Os comandados de Sampaoli não contavam que teriam pela
frente um arqueiro tão empenhado, aguerrido e determinado como Júlio César.
Júlio César foi eleito o melhor jogador em campo pela FIFA Créditos: Rafael Ribeiro / CBF |
O choro do camisa 12 do time brasileiro antes das
penalidades era a tradução do filme que se passava na memória do goleiro, que
sofreu com a eliminação quatro anos atrás na África do Sul, e via de perto o cenário se repetir. Coube a ele se
redimir dos erros contra a Holanda, em 2010, e salvar a pátria verde e amarela
contra o Chile.
Créditos: Rafael Ribeiro / CBF |
Cada lágrima de Júlio César transformava em garra e
determinação para defender cada penalidade.
Parecia até que Júlio previa que seria o herói do confronto.
Após a concretização da vitória por pênaltis, o choro se
repetiu, porém, com sensação de alívio por tirar das costas o peso de uma nova
eliminação.
Choro de Neymar é o alívio pela classificação e a sensação de que poderia ter feito mais, porém ficou devendo Créditos: Marcello Casal Jr. / Agência Brasil |
Para os céticos de plantão pode parecer coisa de gente mole,
de quem não tem personalidade, coisa de pessoa fraca ou até falta de
profissionalismo, mas só quem vive o dia a dia do futebol pode entender o porquê
do choro de Júlio César e de outros atletas brasileiros. No caso do arqueiro a
sensação de dever cumprido. Para os demais sensação de que ficaram devendo.
Créditos: Rafael Ribeiro / CBF |
O time brasileiro pode produzir muito mais, entretanto, é
necessário ter como base o espírito coletivo que Chile, Holanda, Alemanha,
Uruguai e Colômbia demonstraram até aqui. A soberba e o individualismo são facilmente
superados por equipes bem montadas.
Futebol não é só estratégia, tática, números, retrospecto e
tradição. A malícia, a “malandragem” (no bom sentido), a garra, a determinação,
a imposição dentro de campo também fazem a diferença.