terça-feira, 5 de abril de 2016

Violência no futebol vai além das quatro linhas

Os idiotas da objetividade não enxergam além do fato, escrevia o jornalista Nelson Rodrigues em suas célebres colunas. Hoje poderíamos aplicar isso e dizer que “os idiotas da objetividade não enxergam além das quatro linhas” para resumir as soluções apresentadas pelas autoridades após as barbáries que aconteceram no final de semana em São Paulo antes e depois do clássico Palmeiras x Corinthians. O futebol vai além do campo. Há todo um contexto por trás daquele jogo de bola. Nelson Rodrigues chamava isso de “Sobrenatural de Almeida”, que eram as forças ocultas por trás de uma partida de futebol. Eu classifico isso como contexto social, claro, com o perdão de discordar do magnífico escritor de Nelson Rodrigues.

Motivado pelos recentes confrontos entre alguns integrantes de torcidas organizadas que culminaram até na perda de uma vida, fui refletir um pouco mais sobre o tema, com a calma e a tranquilidade que, certamente, as autoridades não tiveram ao também pensarem sobre o assunto. Concluo que o essas brigas entre facções organizadas vai além do campo. Nenhuma das batalhas registradas no domingo foram dentro do estádio. Todas foram há quilômetros de distância, o que evidencia que o problema não é ter ou não torcida única. O problema é social, pois houveram combates recentes até em dias que não tinha jogo na cidade. Fato recente. No clássico Corinthians x São Paulo, em Itaquera, houveram confrontos entre torcedores organizados em Campinas, na região do ABC e em outros locais longe do campo de jogo.

Anunciar clássicos em São Paulo com apenas a torcida do mandante é decretar a incompetência das autoridades que organizam o futebol. É tampar o sol com a peneira. É querer apresentar medidas urgentes para ser destaque na imprensa. Com essa medida, as instituições responsáveis pela organização das partidas assinam o atestado de incompetência, uma vez que as brigas acontecem longe dos estádio e até em dias que não há futebol na cidade. Isso são fatos.

Daqui a pouco as autoridades apresentarão um plano contra roubos de carros: não tenha carro. Pronto. Resolveu? Os ladrões de carro vão sumir? Evidente que não. Tem que ser muito ingênuo para acreditar nesse tipo de argumento.

É necessário que os representantes do Ministério Público, da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, da Federação Paulista de Futebol e dos clubes, saíam da zona de conforto e investiguem melhor, criem leis mais duras e se preparem melhor para combater esse tipo de violência, pois anunciar torcida única é uma medida ineficaz. Há exemplos no Brasil e na Argentina de que isso não diminuiu os combates entre torcidas.

Em Minas Gerais os clássico entre Atlético-MG e Cruzeiro eram com torcida única e inúmeras vezes houveram brigas de gangues das facções organizadas. Na Argentina os clássicos Boca e River só possuem a torcida do mandante e mesmo assim a violência não acabou e tampouco diminuiu. E os temidos Barrabravas ainda existem e só aumentam. Houve um fato recente na Copa Libertadores da América em que uma partida entre os rivais argentinos foi interrompida no La Bombonera por causa do caos instalado pela torcida do Boca Júniors contra o time do River Plate. E era jogo de torcida única! Será que esqueceram de tudo isso?

É cômodo para o secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Alexandre de Morares, anunciar esse tipo de medida radical no calor da emoção. É necessário ir além das quatro linhas. Tem que pensar o no contexto e apresentar medidas punitivas para combater o vandalismo em qualquer circunstância.

Para pensar além do campo

A fim de provocar a reflexão sobre o fato, eu recomendo a leitura obra “Para entender a violênciano futebol”, do sociólogo Maurício Murad, especialista no tema, que trata a violência no esporte mais praticado no mundo como reflexo da falta de investimento em áreas como educação, políticas públicas e segurança, além de abordar assuntos no âmbito da popularização do futebol pelo mundo.

O grupo mais famoso no mundo por provocar o terror nos estádio de futebol são os ingleses Hooligans. Na Inglaterra, não adotaram torcida única porque não é a medida mais inteligente. Lá criaram mecanismos de punição aos brigões. E para entender que a guerra entre torcidas organizadas vai além das quatro linhas, eu recomendo o filme "Green Street Hooligans", lançado em 2005, com direção de Lexi Alexander, foi a primeira produção de Hollywood que conta o envolvimento de um torcedor americano, interpretado por Elijah Wood, com os hooligans baderneiros do West Ham e a rivalidade com o Millwall. 









Além desses três filmes sobre os ingleses hooligans, há também uma série que mostra exatamente como essas brigas de torcidas organizadas estão espalhadas pelo mundo e como o problema vai além do futebol. Trata-se da série "The real football factories", inspirada no filme "Violência Máxima - The real football Factory" do diretor Nick Love. 

Confira: 

























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