sábado, 24 de janeiro de 2015

Corinthians: uma história de "pai" e "filho" com vidas opostas

A história é muito longa. Começou há mais de 100 anos. Para ser mais preciso, 104 anos atrás. No bairro do Bom Retiro, perto da estação da Luz, região central de São Paulo. Época em que a Rua José Paulino não tinha a fama que tem hoje em dia. Aliás, essa rua ainda não existia.

Tudo começou por causa de um clube inglês que veio fazer uma excursão no Brasil. Tempos em que a Inglaterra era mundialmente conhecida como “o país do futebol” e nós brasileiros não imaginávamos que trocaríamos a regata e o remo pelo futebol. Os esportes aquáticos e o turfe eram os mais populares. Não sabíamos o que era uma bola ou que faríamos com ela.

Em 1882, o Corinthian FC foi fundado em Londres, terra do football, até então. A missão do seu fundador, Pa Jackson, foi a criação de uma equipe capaz de desafiar a Escócia, a principal força da época.

Rapidamente se estabelecendo como um clube que jogava um belo futebol, o Corinthian alcançou excelentes resultados. Deixou de lado toda grande rivalidade entre clubes ingleses, o fato é que o Corinthian FC ainda é, até hoje, o único clube que já teve todos seus jogadores selecionados ao mesmo tempo para representar a seleção da Inglaterra - e eles o fizeram em duas ocasiões diferentes!

Acreditando na santidade do amadorismo, no entanto, Corinthian FC tornou-se cada vez mais marginalizado, por conta do processo de profissionalização do futebol britânico. Restrito a jogar apenas amistosos de alto perfil, tais como o fantástico 11x3 sobre o Manchester United, um recorde que ainda perdura no futebol inglês, o clube encontrou nas turnês internacionais uma forma de se restabelecer como força futebolística. O Corinthian tornou-se um missionário do football, popularizando o esporte tão amado para todo o mundo.


No vídeo abaixo que está na home do site do Corinthian-Casuals conta um pouco da história da equipe inglesa e trata das semelhanças e diferenças com o filho brasileiro, além da goleada histórica sobre o Machester United por 11 a 3. Confira:





Primeiro, eles excursionaram pela Europa. Os espanhóis do Real Madrid escolheram jogar com os uniformes brancos, inclusive, em honra ao Corinthian FC. Em seguida, visitaram a África do Sul, EUA, Canadá e em seguida, fizeram a mais famosa turnê, em 1910. Visitaram o Brasil, sem saberem que mudariam para sempre a história do futebol nessas terras.

Convidados por um velho amigo, Charles Miller, ele próprio um ex-corinthiano e o homem considerado pai do futebol brasileiro, o Corinthian chegou ao Rio de Janeiro. Na cidade Maravilhosa eles conquistaram uma considerável vitória de 10x1 sobre o Fluminense e uma histórica vitória por 5x2 sobre o primeiro selecionado “brasileiro” a ser reunido na história, antes de partir para São Paulo.

E foi em lá que, sem dúvida, os ingleses fizeram a sua maior marca na história esportiva. Em um jogo cheio de ação que terminou com uma vitória por 8x1 sobre o São Paulo Ahtletic Club de Charles Miller, um pequeno grupo de homens no meio da multidão se inspiraram a fundar seu próprio clube. Trabalhadores ferroviários do bairro do Bom Retiro, Joaquim Ambrósio, Carlos da Silva, Rafael Perrone , Antônio Pereira e Anselmo Correia.

Ansiosos para começar sua própria equipe, à imagem e semelhança do Corinthian que tanto admiraram, os homens foram presos por um nome. E no dia 1º de setembro daquele 1910 histórico, um gigante nasceu à luz de lampião: Sport Club Corinthians Paulista.

Desde aquele dia, a história dos dois clubes foi muito diferente, sendo que 1914 um ano peculiar, e especial para ambos – ainda que por motivos diferentes.

Para o Corinthians Paulista, foi o ano em que ganhou seu primeiro campeonato estadual de São Paulo; e para o Corinthian FC, ​​foi o ano em que uma parte importante de seu patrimônio – especificamente 22 jogadores – foi dizimada nos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial. O conflito eclodiu quando a equipe estava viajando para o Brasil para uma terceira turnê - que foi tragicamente interrompida pelo início das batalhas em terras europeias.

Um século se passou desde então, e o Corinthians Paulista evoluiu a olhos vistos. Não vinculado ao espírito do amadorismo que seus irmãos ingleses ainda mantêm, os brasileiros agora são a força dominante no futebol brasileiro. Com uma torcida de mais de 30 milhões de loucos, é considerada a maior marca esportiva da América do Sul e tem desfrutado de enorme sucesso nacional e internacional.

Já o Corinthian FC, negando-se a profissionalização, ou seja, vai na contramão da história e, por isso, foi lentamente sendo esquecido por um futebol cada vez mais obcecado pelos excessos financeiros do jogo profissional. A fim de garantir o seu futuro, o clube se fundiu com uma alma gêmea, o Casuals FC, ​​em 1939, para se tornar o atual Corinthian-Casuals Football Club. Com sede em Londres, até hoje é a equipe amadora mais bem qualificada no sistema de ligas do país, mas sobrevive com muitas dificuldades graças a uma brava equipe de leais voluntários. A equipe é vizinha de alguns gigantes do futebol mundial como Arsenal, Chelsea e Tottenham.

Hoje, os dois clubes não poderiam ser mais diferentes. Um é formado por pessoas que são trabalhadores assalariados em metade do dia e atletas na outra metade; enquanto isso, o outro inclui alguns dos nomes mais célebres da história do futebol: Sócrates, Casagrande, Rivelinho, Tevez, Ronaldo Fenômeno e tantos outros. Além de títulos importantes como dois mundiais de clubes (em 2000 e 2012) e uma Taça Libertadores da América (em 2012).

Por duas vezes, seus caminhos se cruzaram. Em 1988 e em 2001, o Corinthian-Casuals visitou o Brasil para jogar nostálgicos e emocionantes amistosos.






Confronto de 1988 no estádio do Pacaembu. Vitória do Corinthians Paulista por 1 a 0 sobre o Corinthian-Casuals. Naquele jogo, Rivellino, Sócrates (que jogou no primeiro tempo pelo Corinthians Paulista e na segunda etapa pela equipe de Londres) e Domingos da Guia estiveram em campo. Além disso, Oswaldo Brandão comandou o time do banco. 






O jogo foi uma homenagem ao time campeão paulista de 1977, que tirou o Corinthians Paulista da fila de 23 anos sem título.








Imagens raras do confronto em 2001 da partida que aconteceu no Parque São Jorge. Os veteranos, com presença de Wladimir, Biro-Biro, Zenon e Ataliba venceu a equipe inglesa por 9 x 0







FICHA TÉCNICA

CORINTHIANS 9 x 0 CORINTHIAN-CASUALS-ING

Estádio Alfredo Schürig (Parque São Jorge) 29/05/2001 
Gols: João Paulo 8, Zenon 11, João Paulo 14, Ataliba 25 e João Paulo 35 do 1º; Pita 8, Luís Fernando 10, Geraldão 25 e Luís Fernando 28 do 2º

CORINTHIANS: Solito, Ronaldo (Alfinete), Wílson Mano (Ismael), Nelsinho e Paulinho; Wladimir (Agnaldo), Ataliba (Pita) e Biro-Biro e Zenon; Carlinhos e João Paulo. Técnico: Mário Travaglini

CORINTHIAN-CASUALS-ING: Peter Crees, Ronald Macnamara, Mark Rose, John Russel e Mark Pope; Trevor Waller e Graham Pearce (Brian Wakefield); Mark Fabian, Steve Smith, Peter Kitchen e Robert Macnamara (Larry Ryan). Técnico: Brian Wakefield

Para aqueles que vivenciaram a experiência, porém, essas partidas significaram mais do que a conquista de qualquer campeonato. Já para os brasileiros, o Corinthian-Casuals é a família distante; representam a própria história orgulhosa do Corinthians Paulista e uma das maiores e mais sensacionais histórias de futebol que neste sábado, 24/01/2015, terá um novo capítulo. 


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